A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (6) coloca o presidenciável Eduardo Campos (PSB) em uma posição, no mínimo, delicada. Campos, que na pesquisa anterior
tinha 11% das intenções de voto, despencou para 7% e, agora, aparece
tecnicamente empatado com o Pastor Everaldo Pereira (PSC), que registra
4% do eleitorado. A presidente Dilma Rousseff (PT) continua liderando as
pesquisas, embora tenha caído de 37% para 34%. Já o senador mineiro
Aécio Neves (PSDB) passou de 20% para 19%. A tendência atual para Campos
não é boa nem mesmo em Pernambuco. Ali, embora tenha deixado o Governo
do Estado como o mais bem
avaliado governador do país, seu indicado para disputar o Palácio do
Campo das Princesas, o ex-secretário da Fazenda Paulo Câmara, está bem
atrás do senador Armando Monteiro Neto (PTB). Dilma também aparece
tecnicamente empatada com Campos em sua terra natal, o que tem elevado
ainda mais a temperatura interna no PSB.
“As pesquisas refletem um determinado momento e uma tendência que
podem ou não ser revertidas. Neste momento existe um arrefecimento da
campanha de Eduardo, tanto em nível nacional
como em Pernambuco. O Eduardo superdimensionou a aliança com a Marina
[ex-senadora Marina Silva pré-candidata a vice na chapa do PSB]. Este
erro de superdimensionar o potencial foi cometido por nós mesmos do PT,
em 2012, quando cometemos este erro com Humberto Costa e João Paulo”,
analisa um integrante da cúpula petista.
A referência diz respeito a eleição municipal de 2012, quando o
senador Humberto Costa e o deputado federal – hoje pré-candidato ao
Senado na chapa do PTB – João Paulo foram colocados para disputar uma
chapa puro sangue do PT e acabaram derrotados pelo então desconhecido
Geraldo Julio (PSB), indicado pelo então governador Eduardo Campos,
impondo o fim de um ciclo de 12 anos do PT à frente da Prefeitura do
Recife.
Quando anunciada a aliança entre a Rede Sustentabilidade da ex-senadora Marina Silva e o PSB, a união foi vista como um fenômeno surpreendente na política nacional.
Marina chegava com o saldo de 20 milhões de votos da última disputa
presidencial e uma rusga profunda com o PT, partido que ajudou a fundar.
Já Campos vinha de um governo considerado como um dos mais bem
avaliados do país, além de se apresentar como um fato novo no cenário
político. A expectativa era de com a aliança, parte do capital político
de Marina fosse transferido quase que automaticamente para o socialista,
algo que ainda não aconteceu.
Neste momento, Campos tem menos chances que o ex-correligionário Ciro Gomes, que tinha 17,5% das
intenções de voto em 2010, conforme pesquisa CNT/Sensus, e que foi
obrigado a desistir em prol da aliança do PSB com o PT em torno do
palanque que levou Dilma à Presidência. Ele também fica atrás de Anthony
Garotinho, que hoje está filiado ao PR, mas foi pré-candidato à
Presidência pelo PSB em 2002. Na época, Garotinho registrou 17,86% das
intenções do eleitorado.
Divergências de posicionamento entre Campos e Marina, especialmente
nos pontos relativos ao agronegócio e quanto a formação de alianças,
acabaram por minar ainda mais o potencial de crescimento
da chapa encabeçada pelo PSB. Enquanto Campos trabalhava para firmar
alianças com o PSDB em estados como São Paulo, o maior colégio eleitoral
do País, e buscava firmar um pacto de não agressão com Aécio em suas
principais bases eleitorais [Minas
Gerais e Pernambuco], Marina e os membros da Rede se mostraram
radicalmente contrários a qualquer tipo de aproximação com os tucanos.
“Esse foi um outro erro. Nem o PSB e nem os membros da Rede, que hoje
estão abrigados no PSB, possuem uma representatividade alta em estados
importantes ou nos maiores colégios
eleitorais do país. Pernambuco é importante? Claro que é. Mas em nível
nacional, Pernambuco é relativamente pequeno. A Rede padece deste mesmo
erro. O erro, neste caso foi de análise. Lula [ex-presidente Luiz Inácio
lula da Silva (PT)] estava
certo quando disse que Eduardo esperasse um pouco mais, até 2018, para
sair como candidato à Presidência”, diz um analista da cena política
nacional. Um outro fator é que as alianças também não decolaram. A
pré-candidatura do PSB é apoiada atualmente por partidos pequenos: PPS,
PPL, PRP e PHS. Para tentar ampliar o seu leque, Campos tem buscado
atrair para si não o partido, mas os descontentes em alguma medida. A
chamada ala dissidente do PMDB é o melhor exemplo desta busca,
intermediada em grande parte pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE),
um dos maiores críticos ao governo do PT.
Diante deste quadro, campos tem buscado redefinir a sua estratégia.
Ao mesmo tempo em que ataca o governo da presidente Dilma Rousseff – do
qual o PSB integrava a base até meados do ano
passado – passou a atacar o tucano Aécio Neves, como uma tentativa de
mostrar para o eleitor as diferenças entre eles, em praticamente uma
cessão às pressões exercidas por Marina e seus seguidores.
A estratégia, pelo visto, teve o efeito bumerangue: bateu e voltou.
Este reflexo tem aparecido nas pesquisas e acendido a luz de alerta na
campanha socialista. De olho neste cenário, o PT avalia que o melhor a
fazer é não trombar de frente com
Campos, visando o apoio do PSB em um eventual segundo turno. Neste
ponto, Lula e Campos mantém conversas frequentes e um tem procurado
poupar o outro de ataques diretos. Nesta semana, o vice-prefeito do
Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), cujo partido apoia a reeleição e Dilma
em nível nacional, disse em alto e bom som que espera o que PSB suba no
palanque de Dilma caso haja um segundo turno. Vale ressaltar que
Siqueira é membro da Executiva Nacional do PcdoB e uma declaração desta
natureza não seria feita a troco de nada. Apesar de querer contar com o
pSB em seu palanque em uma segunda fase da campanha, o PT acredita que
Dilma será reeleita ainda no primeiro turno, o que coloca Campos em uma
situação ainda mais delicada em relação ao cenário que tem pela frente.
Nesta linha, Campos tem enfrentado dificuldades em casa. De acordo
com pesquisa realizada pelo Ibope, encomendada pelo PTB e divulgada esta
semana pelo jornal Folha de Pernambuco, o senador Armando Monteiro
possui 43% das intenções de votos. Já o ex-secretário da Fazenda, Paulo
Câmara (PSB), figura com 8%, enquanto Jair Pedro (PSTU) e José Gomes
Neto (PSOL) somam 2%. Já na disputa presidencial, Eduardo Campos (PSB)
possui 40% das intenções de voto, contra 39% da presidente Dilma
Rousseff (PT), caracterizando um empate técnico. O senador mineiro Aécio
Neves (PSDB) registra apenas 3% da preferência do eleitorado
pernambucano. “Eduardo vai perder em casa”, diz um petebista de alto
coturno.
OS próximos passos, pelo visto, serão decisivos para Campos e o PSB.
Sem uma base de apoio sólida o bastante para impulsionar a sua
candidatura, campos corre o risco
de ver minguar até mesmo o projeto de ampliar a bancada do PSB na
Câmara, cuja meta estabelecida no início da pré-campanha era passar de
35 para 50 deputados, o que colocaria e legenda como detentora de uma
das maiores bancadas da Casa, elevando o potencial de Campos para
firmar-se como uma das vozes principais vozes da oposição em caso de
derrota no pleito de outubro. Vale ressaltar que o partido já teve pelo
menos seis baixas desde então.
Em nível estadual a situação também preocupa. Com a saída
do governador do Ceará, Cid Gomes, para o PROS, o PSB perdeu não apenas
um palanque estratégico, mas também um governo relativamente bem
avaliado e com grande potencial eleitoral. No Espírito Santo, o
candidato socialista também enfrenta dificuldades.
Com poucas opções à mesa – comprar a briga e ver minguar ainda mais as suas chances, se aliar ao PT em um segundo
turno e ter que esperar uma oportunidade que pode demorar a reaparecer
ou se unir a Aécio, algo que no momento parece impensável – Campos terá
dias difíceis pela frente.
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